sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Aconteceu poesia...

Aos que notícias nos pedem acerca da concretização de uma desejada (prometida?) tertúlia, lá para os lados da Anobra, em época de Natal; podemos responder que aconteceu poesia, a 10 de Dezembro, noite fora.
Se lá foi o Menino e discretamente ouviu e sorriu, escusamos de fingir não ter a certeza. Sentimo-lo todos, naquela espécie de serenidade divina, temperada de calor humano e de doce descontracção, que marcou o ambiente.
Dos discursos iniciais da Coordenadora Pedagógica, Alice Santos, da Directora da Escola Secundária com 3.º Ciclo Fernando Namora, Anabela Lemos, do actual Presidente da Junta de Freguesia, Gustavo Pancas e do seu antecessor, José Simões, passámos ao chá e ao bolo-rei. Aos versos: em suporte livro, originais/repentistas ou aplicadamente pesquisados no mundo virtual. Ansiosamente a espreitarem o palco dos nossos sonhos, em mesas de apoio estrategicamente colocadas, em bolsos (in)discretos, em mentes que os repetiam baixinho ou no dossiê do CNO, ainda quente da sessão realizada pouco antes.
Já composto o ambiente e o chá a aclarar as vozes, a Coordenadora da Biblioteca Escolar, Helena Sousa, deu o mote com o poema «Natal à Beira-Rio», de David Mourão-Ferreira: «Da casa onde nasci via-se perto o rio / [...] E o Menino nascia a bordo de um navio / [...] Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me / À beira desse cais onde Jesus nascia... / Serei dos que afinal, errando em terra firme, / Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?».
Foi, então, ocasião de ver e rever a participação voluntária; ouvir e sentir o texto, em mãos ligeiramente trémulas, olhos iluminados na antecipação do encanto partilhado e vozes, a ganharem firmeza em percursos (in)tranquilos, divertidos, nostálgicos, exemplares, desenhando com palavras o Natal da nossa imaginação, o de todos os dias, o Natal passado, este Natal...
Assumidamente orgulhosa da franca adesão dos formandos, que, em alguns casos, se fizeram acompanhar de familiares, de amigos; a equipa deleitou-se ouvindo e declamando os versos de Miguel Torga, David Mourão-Ferreira, Fernando Pessoa, entre outros dos nossos maiores, que ecoaram pela sala, em melodias entoadas individualmente ou ao sabor da partilha, que acenderam os sentidos às palavras, devolvendo-as ao presente, aos presentes, fazendo-as Natal.
No final, a formadora Isabel Neves, em jeito de balanço, recomendou reflexão, a pretexto da pergunta «O que aprendemos aqui?».
Talvez a maior lição tenha sido a da simplicidade. Ou a de como é fácil desmistificar o estereótipo de que a poesia não é acessível a todos. Talvez a de como essa vontade, tão veementemente expressa, na voz da formadora Graça Figueiredo, de «meter no inferno o tal das tranças [...] que não gostava de crianças», pode ser concretizada, no dia-a-dia, recuperando o céu.
Assim, «quase por acaso ou milagre, aconteceu» Natal, onde (também) deve acontecer: numa escola de meninos, na qual, à noite, há noite para nascer, mesmo já crescidos. Aprendemos, pois, que «A poesia, não é tão rara, como parece. /Na mais ínfima das coisas, /A poesia acontece.»

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