quarta-feira, 22 de junho de 2011

Sessão com famílias de etnia cigana – “A escola e a família”.



"Novas e mais intensas relações se estabelecem entre os pais ciganos e os estabelecimentos de ensino. É necessário, no entanto, para que este relacionamento resulte positivo que, por um lado, não se perca a identidade e a originalidade da cultura cigana e se promova a sua integração no fundo cultural comum e, por outro, se vençam preconceitos e rotinas dos pais ciganos em relação às escolas e destas em relação à população cigana” (Noronha, 2003, p. 7).

No dia 15 de Junho realizou-se, na escola secundária Fernando Namora, com famílias de etnia cigana[1]
, beneficiárias do Rendimento Social de Inserção (RSI), uma sessão sobre a escola e a família. Esta sessão teve como objectivos apresentar sugestões às famílias para prepararem a ida dos filhos para a escola e apresentar estratégias que podem implementar para contribuírem para o seu sucesso educativo. Ora, “qualquer abordagem à população cigana deve iniciar-se pela família, pois é (…) através desta que os elementos mais novos das comunidades ciganas acedem à cultura e identidade ciganas, etc.” (Ferreira, et al, 2005 p. 17).

Apesar de sabermos que “a importância que a família adquire na população cigana relega para segundo plano o papel da escola no trajecto de cada cigano” (ibid, 2005, p. 19), também sabemos que alguns factores têm contribuído para a fixação das famílias ciganas e o seu contacto com “estilos de vida e sistemas de valores muito diferentes dos que caracterizam a sua cultura” (Noronha, 2003, p. 7): diminuição de actividades comerciais exercidas em feiras, devido ao seu encerramento ou perda de importância; a influência crescente dos meios de comunicação social nos(as) jovens ciganos(as); exigências legais para usufruto de benefícios sociais como, por exemplo, o RSI. Geralmente, para poderem usufruir deste benefício, os pais e mães têm de matricular os seus filhos em jardins-de-infância e escolas e mantê-los até ao fim da escolaridade obrigatória (ibid, 2003).

Foi louvando os adultos presentes por, em Setembro, iniciarem o curso de Competências Básicas, que se iniciou a sessão. De facto, é através do exemplo que melhor se educa e a aposta na aprendizagem, por parte dos pais, contribui para a valorização, pelos filhos, do seu percurso educativo. Além disso, segundo um dos adultos presentes, é importante saber ler, escrever e contar para “poder utilizar um multibanco, saber em que lugar da fila se está, quando se tira uma senha, e ajudar os filhos na escola”.



Além da realização de brainstormings, apresentámos, então, conselhos para os pais e mães prepararem a ida das crianças para a escola, nomeadamente: consciencializarem-se que, até as crianças entrarem na escola, a responsabilidade pela sua educação é apenas da família, depois, eles têm de a partilhar com a escola. Contudo, foi preciso deixar claro que a família e a escola têm responsabilidades distintas, sendo que a família “tem a responsabilidade de dar condições para que a criança viva, se desenvolva e seja feliz – alimentação, abrigo, amor, protecção contra os perigos, acompanhamento, normas de conduta” e a escola, por sua vez, é responsável “por aquilo que se passa dentro da escola – ensinar de forma a que a criança aprenda, fazer com que se sinta bem, se relacione com os colegas, respeite os professores, descubra o mundo e a vida, desenvolva o seu sentido de responsabilidade, de ajuda aos outros, de honestidade” (ibid, 2003 , p. 27 a 28). Posto isto, “as famílias não podem decidir o que deve ser ensinado nem como deve ser ensinado, como deve ser organizada a sala de aula, como devem ser escolhidos os professores, como devem ser avaliados os alunos. Destes assuntos sabem os professores. Mas podem dizer o que as crianças sentem, do que gostam e não gostam, podem ajudar o professor a conhecer melhor a criança (…) [dando] informações sobre a sua cultura e a sua comunidade. Destes assuntos sabem os pais” (ibid, 2003, p. 28).

Outro dos conselhos apresentados às famílias foi para falarem com os filhos sobre a escola de uma forma positiva. Também devem esclarecer todas as dúvidas das crianças e informá-las sobre os seus horários, refeições e quem as leva à escola. Preparar as crianças para se darem bem com o professor, informando-as que, na escola, o professor é a pessoa que substitui os mais velhos da família e, como tal, deve ser respeitado” (ibid, 2003, p. 41), é igualmente pertinente.

No que diz respeito aos conselhos para as famílias ajudarem as crianças a terem sucesso na escola, foi referido que é necessário respeitar as regras da escola, proporcionar condições favoráveis ao estudo (proporcionar um lugar em casa onde as crianças podem estudar com sossego e organização; incentivar a limpeza e organização dos cadernos e outro material escolar; proporcionar uma alimentação saudável e garantir que as crianças dormem o suficiente; estabelecer regras quanto à realização dos trabalhos de casa: primeiro, fazer os trabalhos de casa, depois, brincar e contribuir para o fortalecimento da auto-estima dos filhos através, por exemplo, do elogio).

Finalmente, foi destacada a importância da família colaborar na escola através da presença em reuniões de pais, na realização de atendimentos com os directores de turma e na participação na associação de pais. Geralmente, os pais e mães ciganos não participam nas Associações de pais porque pensam que não são aceites ou não reúnem os requisitos necessários para o fazer: saber ler e escrever. Consequentemente, a escola continua, sobretudo, a ser pensada para os meninos não-ciganos (ibid, 2003, p. 62).


Bibliografia

Noronha, M (2003). A escola é uma esperança. Sugestões para famílias de etnia cigana. Lisboa. Secretariado Entreculturas

Ferreira, B., Almeida, C., Pinto, F., Santos, M., Caldeira, S., Maranha, S. (2005). Ciganos…Crónicas, Números e Histórias. Projecto EntreCulturas. Edição: Associação Fernão Mendes Pinto.


[1]
Comunidade Cigana ou Comunidade Roma, segundo a terminologia adoptada na União Europeia.

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